A força da biosseguridade para o combate ao avanço da Influenza Aviária
Diante da ameaça da Influenza Aviária e outras doenças o produtor deve ficar atento às medidas de biosseguridade. O médico veterinário e mestre em saúde animal, Gustavo Triques, destaca a importância da aplicação de um Programa de Biosseguridade para o controle de patógenos.
1. O que significa biosseguridade em uma granja e o que isso engloba?
Denomina-se biosseguridade o conjunto de ações implementadas em um sistema produtivo que visa reduzir ao máximo as chances de introdução de um patógeno em uma granja. As medidas de biosseguridade englobam desde a definição do local onde as instalações serão construídas e avaliação dos potenciais riscos nos arredores da granja (conhecido como biosseguridade conceitual) até padrões construtivos com cercas e telas, por exemplo, que têm como objetivo restringir o acesso de vetores como pássaros, insetos e outros animais (chamado de biosseguridade estrutural). Por fim, a biosseguridade contempla ainda todos os procedimentos de boas práticas realizados rotineiramente (denominado biosseguridade operacional). Exemplos são o banho, limpeza e sanitização de mãos e calçados, desinfecção de materiais na portaria dos núcleos e controle de pragas.
2. Qual a importância de seguir o vazio sanitário para a saúde do lote?
A importância está na necessidade de reduzir a viabilidade ou eliminar o agente etiológico. Vírus e bactérias podem sobreviver de horas até dias em superfícies de equipamentos e instalações e em roupas e calçados. Na presença de matéria orgânica, a permanência do agente é maior. Considerando essa característica biológica, o vazio é preconizado com outros procedimentos sanitários com o objetivo de se reduzir a pressão de infecção do local ou disseminação do vírus ou bactéria.
3. Dos principais pontos de biosseguridade, quais os mais difíceis de seguir ou controlar/monitorar?
Uma vez que a granja atende às premissas da biosseguridade conceitual e da estrutural, o grande desafio é em relação aos procedimentos. É necessário disciplina por parte de todas as pessoas envolvidas no processo para que cumpram diariamente os procedimentos de biosseguridade. Treinamentos e orientações visuais ajudam muito nesse aspecto. Controle de pragas, como roedores e cascudinhos, também é um desafio, dado à capacidade dos vetores em adaptar-se ao ambiente de granja. Outro ponto cujo cumprimento exige atenção é a restrição do contato das pessoas com outros tipos de aves em ambientes fora da granja.
4. Quais os cuidados que se deve ter com as camas de aviário reutilizadas em frangos de corte?
A reutilização de cama é uma prática normal e bem aceita no mercado. Entretanto, procedimentos que tenham como objetivo reduzir a pressão de infecção devem ser realizados. Para que se atinja essa finalidade, empresas adotam diferentes padrões de procedimentos. O que não pode deixar de ser feito, resumidamente, é: queima de penas, controle de insetos (cascudinhos), fermentação da cama e vazio sanitário. No caso de cascudinhos, o controle deve ser iniciado imediatamente após a saída das aves, a fim de evitar a migração dos insetos. A fermentação é recomendada com o objetivo de reduzir a pressão de infecção da cama. Recomenda-se que a fermentação seja feita com enlonamento. Esse procedimento auxilia no processo de fermentação e ainda ajuda a eliminar cascudinhos por abafamento. O período mínimo de fermentação sugerido é de 7 dias. A incorporação de cal na cama pode ser uma opção para alcalinização e redução de umidade após a fermentação. Após esses procedimentos, recomenda-se ainda aguardar um período de vazio sanitário antes da chegada de aves para o novo lote.
5. Quais os principais pontos a se cuidar com relação a construção do aviário?
Em primeiro lugar, a escolha do local de construção. Preconiza-se que a granja cumpra a distância mínima de 3 km de outras instalações avícolas e que seja distante também de lagos e demais locais que possam ser atrativos de aves migratórias. A construção deve contemplar cerca perimetral que impeça o acesso de outros animais terrestres e que restrinja o acesso de pessoas. A portaria, que deve ser o único local de trânsito de pessoas, equipamentos e veículos deve abranger: arco de desinfeção, sanitários, pias para higienização de mãos, caixa d’água para desinfecção úmida de materiais, fumigador para desinfecção seca, áreas de banho no caso de matrizes (em algumas regiões, o banho também é preconizado para granjas de frangos de corte). O galpão deve ter piso e a estrutura deve impedir o acesso de pássaros (tela antipássaros ou parede). Para projetos novos, é recomendado que a portaria e os galpões estejam unidos através de túnel. Isso faz com que, uma vez que a pessoa adentrou a portaria e teve acesso aos galpões, ela não consegue acessar mais a área externa (criar saídas de emergência). Pias devem ser instaladas nas entradas dos aviários. Calçadas externas no entorno dos galpões são recomendados. Sistema de tratamento de água também é um cuidado essencial que deve ser considerado na construção do aviário.
6. O que fazer com o núcleo em caso de enfermidade infecciosa?
Considerando desde o início da suspeita da doença, que geralmente acontece através da identificação de sinais clínicos e/ou evolução zootécnica, o primeiro passo é buscar o diagnóstico. Necropsias para identificação de lesões e colheita de materiais para laboratório devem ser realizadas. O laboratório deve ser acionado com as suspeitas clínicas e amostras colhidas e acondicionadas adequadamente. A fase seguinte consiste em um protocolo de isolamento do núcleo. A granja em questão deve ser a última a receber visitas na jornada diária de trabalho e a última a receber caminhão de ração ou ovos. É necessário também restringir ao máximo o número de pessoas visitando o núcleo. Após acesso a essas granjas, as pessoas devem fazer vazio sanitário compatível com as características biológicas do agente etiológico e os veículos devem ser higienizados. A saída de materiais e equipamentos deve ser restringida. Em paralelo, de posse do diagnóstico, o tratamento deve ser realizado considerando o tipo do desafio e recurso disponível. Caso a doença demande notificação e abate obrigatório, estas devem ser realizadas.
7. De que formas as doenças podem entrar na granja?
A própria ave, em caso de ser portadora de alguma doença infecciosa, pode ser vetor de um vírus ou bactéria no sistema produtivo. Sendo assim, o programa de biosseguridade inicia-se através da introdução de aves sadias e não contaminadas por patógenos na granja. Além das aves, qualquer material e equipamento, veículo, pessoa e animais que tenham contato com as aves, podem introduzir doenças no lote. Sendo assim, vale destacar que os principais vetores são: pessoas que entram em contato com a granja, ração e água contaminadas, roedores, insetos e outros animais silvestres, equipamentos e materiais contaminados.
8. Com qual a periodicidade que o programa de biosseguridade deve ser aplicado?
Uma vez que o Programa de Biosseguridade é implementado, o cumprimento das normas e procedimentos deve ser rigoroso e realizado diariamente para que se tenha um menor risco de introdução de doenças. Importante enfatizar que, mesmo após implementado o programa de biosseguridade, a avaliação de riscos e introdução de medidas extras devem ser constantes.
9. Qual a garantia que a biosseguridade pode dar de que não haverá contaminação no aviário?
Por definição, a biosseguridade visa minimizar as chances de contaminação, e não garantir que os lotes estarão livres de qualquer doença. Isso porque entende-se que sempre há oportunidades de melhorias em estrutura ou procedimentos. Portanto, o foco deve ser em buscar novas possibilidades ao invés de buscar uma maneira única e permanente de prevenção.
10. Em caso de alguma ocorrência no aviário como acionar o plano de contingência e o que ele consiste?
Em casos de suspeitas para Influenza Aviária ou Doença de Newcastle, o primeiro passo é notificar o veterinário do MAPA responsável pela região e, a partir daí as medidas previstas no Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) são colocadas em prática. Em suma, após a notificação deve ser feita a interdição da propriedade, colheita e envio de material para laboratório, manutenção das aves no local, controle do fluxo de pessoas, veículos, fômites, carcaças e cama. Além disso, é necessário que sejam feitos inquéritos epidemiológicos e o sequestro de carne e ovos. Em caso de confirmação para uma dessas doenças, o PNSA prevê o sacrifício imediato de todas as aves no local, destruição das aves que tenham morrido ou sido sacrificadas, destruição de cama, ração, fezes e fômites, limpeza e desinfecção completa das instalações de criação, vazio sanitário de 21 dias, investigação epidemiológica e proibição da movimentação de aves dentro da zona de vigilância. Quando a suspeita for de outra doença infecciosa, o primeiro passo é buscar o diagnóstico. Necropsias para identificação de lesões e colheita de materiais para laboratório devem ser realizadas. O laboratório deve ser acionado com as suspeitas clínicas e amostras colhidas e acondicionadas adequadamente. A fase seguinte consiste em um protocolo de isolamento do núcleo. A granja em questão deve ser a última a receber visitas na jornada diária de trabalho e a última a receber caminhão de ração ou ovos. É preciso restringir ao máximo o número de pessoas visitando o núcleo. Após acesso à essas granjas, as pessoas devem fazer vazio sanitário compatível com as características biológicas do agente etiológico e os veículos devem ser higienizados. A saída de materiais e equipamentos deve ser restringida. Em paralelo, de posse do diagnóstico, o tratamento deve ser realizado considerando tipo do desafio e recurso disponível.
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Gustavo Triques - Médico Veterinário mestre em Saúde Animal
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