A hipercloração em sistema de abastecimento de água é realmente necessária?
A hipercloração é uma medida paliativa adotada para a redução de contaminação nos sistemas de abastecimento de água. Mas, quando e como efetuar este procedimento sem comprometer os equipamentos ou mesmo o resultado?
É uma prática comum no mercado realizar a hipercloração em sistemas de abastecimento de água das indústrias alimentícias como medida profilática, a fim de evitar ou controlar as contaminações microbiológicas em tubulações, válvulas e outras partes do sistema. Geralmente, este procedimento é realizado semanalmente, nos dias de parada da produção. Mas será que é realmente necessário?
De acordo com o RIISPOA (Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal) em seu decreto nº 9.013 de 29 de março de 2017, artigo 42, inciso XXII, “todo estabelecimento de produtos de origem animal deve dispor de água potável nas áreas de produção industrial”. O conceito de água potável é determinado pela Portaria de Consolidação nº 5 de 28.09.2017 do Ministério da Saúde, em seu Anexo XX. (p.443 do documento)
O artigo 34 do referido anexo, determina que é obrigatória a manutenção de, no mínimo, 0,2 mg/L de cloro residual livre ou 2 mg/L de cloro residual combinado em toda a extensão do sistema de distribuição (reservatório e rede). No artigo 39, em seu parágrafo 2º, (p.444 do documento) há a recomendação de que o teor máximo de cloro residual livre em qualquer ponto do sistema de abastecimento seja de 2 mg/L. Também é indicado no Anexo 4 do Anexo XX (p.448 do referido documento) os tempos de contato mínimos a serem observados para desinfecção por meio da cloração.
Diante disso, considera-se que todo sistema de água da indústria seja abastecido com água contendo cloro residual livre e com tempo de contato suficientes para a manutenção da desinfecção do sistema. Considera-se também que não há necessidade de procedimentos suplementares em condições normais de integridade do sistema, seja de reservatórios ou rede.
Medidas em caso de alterações no parâmetro de potabilidade da água
Mas, quando existe a avaliação de quebra de integridade do sistema, seja por alteração de quaisquer dos parâmetros de potabilidade da água, principalmente os parâmetros microbiológicos, algumas ações necessitam ser tomadas para o reestabelecimento dessa integridade. Uma dessas ações é a realização de uma hipercloração no sistema, visando a desinfecção de toda a rede.
Considera-se hipercloração da água a adição de produtos que elevem a concentração de cloro residual livre acima dos 2 mg/L – que é a recomendação de teor máximo para água potável. Para ter um efeito de choque no sistema, é possível trabalhar com uma concentração que fique entre 10 e 15 mg/L, e garantir que haja um tempo de contato de, pelo menos, uma hora. Não é recomendada a ampliação do tempo de contato para mais de seis horas, pois poderia ocasionar efeitos danosos à integridade física do sistema, como por exemplo, a aceleração do processo de oxidação das tubulações e partes que são compostas de aço carbono.
Para efetuar a hipercloração do sistema, deve-se atentar às particularidades de cada planta no que diz respeito aos pontos de aplicação, possibilidade de isolamento ou não dos sistemas, entre outros aspectos. Mas, independentemente destas particularidades, é preciso seguir alguns procedimentos a fim de não agravar ou criar outros problemas:
- Calcular o volume de água necessário para que se consiga completar toda a tubulação do sistema de abastecimento de água da unidade.
- Esgotar ou reduzir o volume de água dos reservatórios ao mínimo possível, para se evitar desperdício de água e de produto.
- Elevar a concentração de cloro na água que irá abastecer o reservatório durante o processo de hipercloração. No caso de se utilizar Hydro-Pol HP ou Acqua Clor, o volume a ser utilizado é de 125 a 190 ml do produto por m³ de água.
- Fazer circular esta água pelo sistema, até que se atinjam todos os pontos das tubulações. Recomenda-se que seja feita a análise de cloro residual nas saídas das tubulações para garantir que a solução hiperclorada atingiu realmente todas as partes do sistema.
- Fechar todas as saídas, mantendo o sistema inundado por, pelo menos, uma hora.
- Após o tempo de contato, abrir todas as saídas para que a solução hiperclorada seja escoada.
- Abastecer o reservatório com água e com a concentração de cloro ajustada para os padrões de potabilidade.
- Garantir que a água potável circule por todos os pontos das tubulações da planta. Recomenda-se que seja feita a análise de cloro residual nas saídas das tubulações para garantir que a solução hiperclorada tenha sido completamente retirada de todo o sistema.
- Continuar com o enchimento dos reservatórios, voltando aos parâmetros de operação.
Seguindo estes procedimentos e efetuando os ajustes necessários para adequá-los as particularidades de cada sistema, a hipercloração pode ser um meio efetivo para a redução dos índices de contaminação microbiológica dos sistemas de água que atendem às indústrias alimentícias.
A hipercloração é efetiva para redução de contaminação, mas deve ser uma medida pontual, a ser aplicada somente em situações e casos específicos. O que vai garantir a integridade do sistema é a adoção de protocolos eficientes para o tratamento da água, que estejam de acordo com a legislação vigente e com as melhores práticas disponíveis no mercado.
A adoção de protocolos eficientes de tratamento irá garantir a integridade do sistema de água
É preciso destacar também que a hipercloração não tem a capacidade de remover biofilmes previamente aderidos às tubulações ou outros pontos de incrustação ou corrosão. Para sua remoção, deve-se realizar a circulação ou imersão dos circuitos e partes afetadas em solução de detergente enzimático, utilizar processos mecânicos de limpeza ou efetuar a substituição das partes já condenadas.
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Leandro Mion - Técnico em Bioquímica e Consultor Técnico de Vendas da BTA Aditivos.
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