Como gerenciar os impactos na nutrição animal com aditivos tecnológicos
É importante conhecer alguns pontos que podem alterar a qualidade das rações e entender como isso pode afetar o perfil nutricional ou o desempenho dos animais.
A formulação de rações é sempre um desafio para aqueles que trabalham com criação de qualquer espécie de animais. É necessário cumprir com as regulamentações e otimizar custos, mas sem esquecer da eficiência da dieta. Mas, apenas satisfazer essas exigências não é o suficiente, é preciso otimizar a utilização dos nutrientes fornecidos e garantir a preservação destes compostos. O avanço do entendimento da nutrição e evolução dos softwares, também contribuíram para tornar o nutricionista muito mais assertivo nas formulações.
Cada vez mais, há uma melhora na qualidade das matérias-primas utilizadas, no controle de processos dentro das fábricas e na garantia dos níveis nutricionais do produto acabado. Mas será que estes níveis são os mesmos que o animal recebe no comedouro? Será que os animais conseguem aproveitar estes nutrientes da forma esperada pelo nutricionista?
Avançando um pouco mais no que diz respeito à segurança do alimento, descubra neste artigo quatro grandes desafios relacionados às rações e como eles podem impactar na dieta dos animais.
1. Quais problemas a presença de fungos acarreta nos grãos
De acordo com Ag-Info Centre (2003) de Alberta, no Canadá, o desenvolvimento fúngico, além de diminuir o valor energético da dieta, pode ainda reduzir os valores das vitaminas A, D3, E e K. Este desenvolvimento pode causar também a redução da tiamina, que deveria estar disponível ao animal, já que os fungos irão utilizar estes nutrientes para crescimento ou, no caso da tiamina, produzir tiaminases. Segundo Kao & Robinson (1972) a diminuição dos valores de tiamina em grãos pode chegar a 50%, devido a contaminação por Aspergillus. A colonização da ração ainda causa uma diminuição da palatabilidade e, consequentemente, no consumo da dieta.
Ao pensar em fungos é importante estar atento também para a produção de micotoxinas, que são metabólitos secundários destes seres. O dano causado por estes compostos já é muito conhecido, mas, eles podem afetar a formulação da dieta de algumas maneiras.
De acordo com Freitas et al. (2012) e Bünzen e Haese (2006), as aflatoxinas atingem todas as espécies de animais e apresentam como sinais clínicos a diminuição do Ganho de Peso Diário (GPD), desordens digestivas, provocam hepatopatias e anorexia. Já as fumonisinas atacam mais em equinos, suínos e aves, provocando erosão de moela, diminuição do desempenho das aves e redução no consumo e no crescimento em suínos. Os tricotocenos atingem os animais monogástricos provocando redução e recusa da ingestão do alimento, desordens digestivas com ulceração, vômitos e até hemorragias viscerais.
É possível observar que todas as toxinas apresentadas afetam diretamente o trato gastrointestinal, limitando o desempenho, não por falha na formulação na dieta, e sim pela incapacidade do animal em acessar estes nutrientes.
Para controlar os problemas das toxinas é muito comum o uso de adsorventes, que possuem alta capacidade de minimizar os danos. Porém, o uso de estratégias como os antifúngicos é mais conveniente, pois protege o produto dos danos dos fungos e impede o aparecimento de micotoxinas.
2. Deterioração por oxidação
Segundo Leeson & Summers (2001) os radicais livres originados durante o processo oxidativo se propagam destruindo os ácidos graxos essenciais, as proteínas, as vitaminas lipossolúveis e os carotenoides dos alimentos.
Nos casos em que esta destruição é mais severa, as aves podem apresentar sintomas de doenças carenciais, como:
- Encefalomalácia
- Diástase exsudativa
- Distrofia muscular
- Necrose dos tecidos em vários órgãos
- Redução na fertilidade e na eclodibilidade de ovos
Na etapa final da oxidação são formados vários compostos que alteram o sabor dos alimentos e têm efeitos tóxicos ao organismo. Há uma perda de ácidos graxos na forma de aldeídos, cetonas e álcool, que geram importantes perdas de nutrientes para o animal.
Em metanálise realizada por Shurson et al.(2015), quando foram avaliados 16 trabalhos com suínos e 26 com frangos, que receberam dietas isocalóricas de ração contendo ou não lipídeos peroxidados, houve uma queda média de 11% no GPD, 7% no consumo, 4% na eficiência alimentar, além da redução de 46% na vitamina E sérica, demonstrando assim como a oxidação afeta de maneira intensa as dietas dos animais.
Quais fatores podem afetar a qualidade de pellet?
As vantagens da peletização de rações já são bem conhecidas na produção animal, pois o processamento térmico traz consigo relevantes pontos positivos, como:
- Redução no desperdício
- Melhora na palatabilidade
- Potencial aumento na utilização dos nutrientes devido ao tratamento térmico dos ingredientes
Mas, para que esses benefícios sejam alcançados é necessário estar atento para a qualidade do pellet fornecido aos animais. Como demonstrado por Cutlip et al. (2008), é possível perceber que o aumento da qualidade do pellet tem correlação negativa com a conversão alimentar, onde 4% de melhoria do PDI diminui em 10% a Conversão Alimentar em frangos de corte.
Outro exemplo do efeito da qualidade do pellet na eficiência da dieta foi apresentado por Quentin et al. (2004), e que pode ser observado no quadro abaixo uma clara relação entre o aumento de finos na ração, a diminuição do GPD e aumento da Conversão Alimentar.
Para melhorar a qualidade dos pellets na fábrica é possível utilizar aglutinantes e conservantes. Com isso, é possível observar benefícios muito relevantes, como por exemplo:
- Melhora dos parâmetros produtivos
- Economia no consumo de energia elétrica
- Aumento da produtividade
- Recuperação de umidade
- Redução nos finos gerados no processo
- Aumento da durabilidade do pellet
Outro benefício da utilização de aglutinantes é seu efeito conservante, uma vez que a manutenção dos valores de atividade de água, assim como a ação biocida de seus componentes, irá melhorar o perfil microbiológico da ração, mesmo após longo tempo de estocagem.
3. Medidas para reduzir a contaminação microbiana em rações
O efeito das enterobactérias também é algo que se deve levar em consideração quando se trabalha buscando otimizar a digestão e absorção de alimentos pelos animais. Ao observar os dados levantados por Muniz et al. (2015), é possível verificar que há um efeito dos sorovares de salmonela na capacidade dos animais em reter a proteína bruta desta dieta. Por exemplo, animais inoculados com Salmonella Enteritidis, conseguiram reter 2% menos de proteína quando comparado a animais não contaminados.
Isso demonstra a importância de tratar a salmonela e demais enterobactérias não só como ameaça à saúde pública, mas também como um diminuidor da eficiência econômica da granja.
Para reduzir a contaminação microbiana em rações, as principais medidas são o monitoramento e o controle da presença de bactérias nos ingredientes, ambientes e equipamentos utilizados na fabricação. O controle dos microrganismos pode ser realizado tanto com tratamento térmico durante a produção, como através de tratamentos químicos, aplicados em diferentes etapas da produção e da armazenagem.
Os ácidos orgânicos são uma das ferramentas mais utilizadas para reduzir a carga microbiológica da dieta. Os efeitos antimicrobianos que os ácidos exercem podem ser expressados de duas formas: pela redução do pH do meio externo ou ação da forma não dissociada.
A forma não dissociada é lipossolúvel e, portanto, tem capacidade de atravessar de forma passiva a membrana celular. O ácido se dissocia dentro da célula, alterando o pH citoplasmático. Consequentemente, o metabolismo celular é afetado, uma vez que interfere no metabolismo de prótons, altera o sistema de transporte de aminoácidos e aumenta a pressão osmótica dentro da célula. A lesão na membrana da bactéria, a perda da sua integridade e o aumento da permeabilidade a prótons provocam a morte do microrganismo.
Além do efeito dos ácidos na dieta dos animais, o uso de sais de ácidos orgânicos na desinfecção de ambientes se mostra muito eficiente. Em teste de desinfecção de ambiente e equipamento com Sani Pró, um produto livre de formol e à base de sais de ácido, houve uma total eliminação de salmonela no ambiente, enquanto para a contagem de enterobactérias totais obteve-se uma redução de 99,5% de unidades formadoras de colônia pós aplicação do produto.
Eficiência da dieta vai além da formulação
Uma vez observadas estas perdas e problemas pós produção, percebe-se que a eficiência da dieta vai além da formulação. A utilização de aditivos tecnológicos como antioxidantes, antifúngicos, antissalmonelas e aglutinantes é uma estratégia assertiva, uma vez que estes auxiliam na qualidade da ração e no desempenho nutricional dos animais.
Para saber mais sobre como melhorar o valor nutricional da ração, veja este artigo com seis dicas para uma fabricação eficiente de ração para nutrição animal.
Referência Bibliográfica
BÜNZEN, Silvano; HAESE, Douglas. CONTROLE DE MICOTOXINAS NA ALIMENTAÇÃO DE AVES E SUÍNOS. Revista Eletrônica Nutritime, Viçosa, v. 3, n. 1, p.299-304, jan./fev. 2006.
FREITAS BV, MOTA MM, DEL SANTO TA, AFONSO ER, SILVA CC, UTIMI NBP, BARBOSA LCGS, VILELA FG AND ARAÚJO LF. 2012. Mycotoxicosis in Swine: a Review. J An Product Adv 2(4): 174-181
KAO, C. and ROBINSON, RJ. (1972) Aspergillusflavus deterioration of grain: its effect on amino acids and vitamins in whole wheat. Journal of Food Science 37: 261-263
MUNIZ, Eduardo C. et al . Avaliação da resposta imunológica da mucosa intestinal de frangos de corte desafiados com diferentes sorovares de Salmonella. Pesq. Vet. Bras., Rio de Janeiro , v. 35, n. 3, p. 241-248, Mar. 2015 .
Shurson, G. C., B. J. Kerr, and A. R. Hanson. 2015. Evaluating the quality of feed fats and oils and their effects on pig growth performance. J. Anim. Sci. Biotechnol. 1- 6:10
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Ítalo Ferreira - Zootecnista, mestre em Nutrição e Produção Animal.
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