Como vencer os desafios na alimentação de leitões na fase de creche
É na fase de creche o momento de maior potencial de crescimento dos animais. Por isso, o cuidado com a alimentação resulta em um bom desempenho nas demais fases de criação.
Na suinocultura, entende-se como creche a fase da produção que abriga os animais no pós-desmame até início da fase de crescimento. Esta é a fase em que o animal tem o maior potencial de crescimento, uma vez que iniciam com 6 kg e atingem até 25 kg de peso vivo, ou seja, quadriplicando o seu peso em menos de dois meses.
Na fase da creche o leitão pode quadriplicar o seu peso em menos de dois meses
Por outro lado, este é o momento de maior risco à saúde dos animais. Com a modernização da suinocultura, houve uma diminuição da idade de desmame dos leitões e com isso um aumento nos fatores que desafiam o animal. Sendo assim, é imprescindível ter atenção nos cuidados, focando na diminuição das mortes, aceleração do crescimento e preparação dos animais para a disposição de carcaça nas fases subsequentes.
Primeiros desafios que podem provocar estresse do animal na fase de creche
Ao transferir os animais da maternidade para a creche é gerada uma sequência de estresses psicológicos, nutricionais, ambientais, sociais e sanitários. Dentre estes fatores, alguns afetam a saúde dos animais:
- Separação dos leitões da matriz e do restante da leitegada;
- Movimentação física dos animais para local na qual eles não estão acostumados;
- Estabelecimento de nova hierarquia social, causando brigas e lesões;
- Ambiente com novos tipos de pisos, comedouros e bebedouros;
- Alteração na dieta, passando de uma dieta líquida (leite) para dieta sólida (ração) e com grande inclusão de ingredientes de origem vegetal.
A partir desta observação verifica-se que há uma abertura para a contaminação dos leitões por patógenos, uma vez que haverá a exposição destes a novos ambientes que podem estar contaminados, ao mesmo tempo em que há uma supressão do sistema imune do animal. Neste momento é comum o aparecimento da diarreia, atraso no crescimento, perda de peso e canibalismo, fatos que irão impactar o desempenho do animal pelo restante da sua vida.
Cuidados para reduzir os impactos provenientes da mudança de alojamento dos suínos
Para minimizar a ocorrência destes problemas é importante trabalhar alguns pontos, já durante o recebimento e também no período de alojamento dos animais.
Antes do recebimento dos leitões é importante limpar e desinfectar o ambiente, os equipamentos, os comedouros e os bebedouros, bem como, testar o funcionamento dos mesmos.
Caso sejam utilizados bebedouros tipo nipple, é necessário verificar a vazão destes. O indicado é que seja de aproximadamente 1 litro por minuto e altura de 3 a 5 centímetros acima da cernelha do animal mais baixo do grupo.
A separação dos animais por peso e condição corporal no recebimento, ajuda muito no dimensionamento correto da baia. Da mesma forma, o correto funcionamento e configuração dos equipamentos desta baia são fundamentais para que os animais iniciem a alimentação nas primeira 36 horas pós desmame, com a mesma dieta que era fornecida na maternidade. Para estimular a alimentação é preciso fazer uso de estratégias como:
- Fornecimento de ração várias vezes ao dia, de forma que o animal tenha acesso ao alimento fresco durante todo o tempo;
- Fornecimento de dieta úmida, que facilita a ingestão pelo leitão;
- Utilização de altas concentrações de produtos lácteos e palatabilizantes na ração.
Deve-se atentar para que os animais tenham alimentos no comedouro sempre que quiserem. Não é recomendado, em hipótese alguma, limitar o consumo dos animais nesta fase.
Como identificar os leitões que precisam de mais atenção
Neste primeiro momento é importante que haja uma maior observação dos animais, com objetivo de localizar aqueles que necessitam de atenção especial. Neste caso, os tratadores devem receber treinamento para conseguir identificar os sintomas de subalimentação. Alguns sinais de que os leitões necessitam de cuidados são:
- Animais hiperexcitados, com medo ou deprimidos;
- Condição corporal debilitada;
- Aparecimento do vazio lateral, indicando que o animal não está consumindo alimento;
- Resquícios de diarreia na baia ou no animal;
- Animais aparentando desidratação.
Um método simples para estimular o consumo dos animais que apresentam tais sinais é umedecer uma pequena quantidade de ração e inserir na boca do animal. Desta maneira haverá o reflexo de ingestão pelo animal, incentivando o consumo voluntário futuro.
Caso vários animais em uma mesma baia apresentem estes sinais, deve-se verificar os equipamentos e alimentos, buscando falhas que estejam impedindo ou dificultando a alimentação dos leitões. Se verificada a normalidade, é preciso fornecer um comedouro com ração úmida para toda a baia, podendo incluir ingredientes superpalatáveis e que sejam fonte de energia prontamente disponível, como por exemplo, leite em pó, açúcar, chocolate em pó e farelo de bolacha.
Balanceamento da dieta da matriz e do leitão
Outro ponto que deve ser levado em consideração no momento do alojamento é o peso dos animais. Já foi reportado por Mahan e Lepine (1991) que ao aumentar o peso dos animais no desmame de 4,5 para 8,0 kg há um ganho de 10 dias no peso de abate. Portanto, atuar durante o período em que o animal está na maternidade, é uma forma de preparar melhor os leitões para o desafio do desmame.
Conseguir atingir o máximo de peso no desmame sem exigir em demasia da matriz, é um grande desafio, que pode resultar em atraso no cio pós desmame. No que diz respeito à nutrição, para que isso ocorra, é preciso observar dois itens: o cocho da matriz e o da prole.
Importância do fornecimento de ração balanceada no cocho dos animais
Balancear a dieta da matriz é algo que deve ocorrer de maneira precisa, pois, além de estar no período de retração do útero e recuperação pós parto ela ainda sofre com estresse da lactação. Estima-se que uma porca produza cerca de 10 litros de leite por dia. Porém, apesar de demandar grande quantidade de nutrientes deve-se evitar um fornecimento de ração exagerado, que pode resultar em excesso de peso e refletir no sistema reprodutivo da fêmea.
Quando se fala do cocho do leitão é preciso observar a ração que é fornecida para os animais de forma a aumentar a ingestão de nutrientes durante o dia. Este alimento tem a função também de praticar a ingestão de ração seca, de estimular o trato gastrointestinal e a secreção de protease e outras enzimas.
Uma vez que o trato gastrointestinal destes animais está imaturo, a qualidade da ração fornecida pré-desmame é de fundamental importância para garantir a saúde e peso da leitegada. Para que este alimento possa ser facilmente digerido pelo animal é indicado que a moagem da ração seja fina, de maneira a permitir uma alta superfície de contato para as enzimas, porém sem grande quantidade de pó, o que inibe a ingestão do produto.
Ingredientes de alta digestibilidade para os leitões
Outro fator que afeta diretamente no desempenho desses leitões é a composição da ração, devendo simular ao máximo a composição do leite da matriz. Para tanto, é interessante que o alimento possua alto teor de compostos lácteos, como soro de leite, lactose, leite em pó e fonte de ácido graxo de fácil digestão, preferencialmente de ácidos graxos insaturados e de cadeia curta.
Para o fornecimento de energia há ainda os amidos e açúcares que, se tomada as devidas precauções quanto ao perfil enzimático do leitão, são fontes de pronta disponibilização energética. Para que o leitão consiga digerir de forma eficiente estes ingredientes de origem vegetal é interessante a utilização do pré-cozimento, a peletização da dieta e, em alguns casos, a suplementação da dieta com enzimas exógenas (que aumentam a digestibilidade de frações da dieta como amido e proteínas, pois são complementares).
Além da baixa capacidade de liberação enzimática, a imaturidade gastrointestinal destes animais se reflete também na liberação insuficiente de secreção ácida no estômago. A capacidade de manter um ambiente acidificado é essencial para uma digestão eficiente, evitando o acometimento de infecções.
A acidificação estomacal gera uma barreira imunológica que protege os animais de bactérias ingeridas via dieta - exemplo Escherichia coli - e melhora a digestão dos alimentos, por ser o ativador da transformação do pepsinogênio em pepsina. Quando estas atividades não ocorrem de maneira ideal há uma passagem de compostos não digeridos e bactérias para o intestino, causando diarreia, desidratação e enterites no leitão.
Buscando contornar a deficiência na secreção ácida do estômago e os danos causados, a suplementação com ácidos orgânicos via água ou ração é uma ferramenta que vem sendo bastante difundida. A utilização destes compostos, além de eliminar patógenos na ração ou água, mantém a barreira ácida do estômago e, com a presença de lactose, estimula a proliferação de Lactobacillus e Streptococcus que dificultam via exclusão competitiva a colonização do intestino pela E. coli e outros patógenos.
Espelhada na avicultura de corte, onde um animal no momento do abate já consumiu cinco dietas distintas, há uma tendência de fornecer rações mais adequadas à fase do leitão. Esta estratégia de separação por fases permite uma melhor utilização dos recursos financeiros e nutricionais nas dietas, pois é possível obter formulações nutricionalmente mais precisas e com utilização de aditivos probióticos, prebióticos, plasma, utilização de amido gelatinizado através de cocção, peletização, extrusão, óleos essenciais e ácidos orgânicos.
Observando estes pontos e tomando os devidos cuidados sanitários é possível garantir um bom desenvolvimento dos animais e prepará-los para que possam desempenhar seu potencial de ganho de peso e correta formação de carcaça nas fases subsequentes.
Os cuidados na fase de creche são importantes para evitar perdas dos leitões. A alimentação faz parte deste desafio e que precisa ser acompanhada em todas as fases. Entenda como os ácidos microencapsulados podem ser benéficos para o desempenho do animal.
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Ítalo Ferreira - Zootecnista, mestre em Nutrição e Produção Animal.
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