Cuidados essenciais no controle de temperatura dos aviários em dias de calor
Oferecer um controle térmico adequado às aves em dias de calor é um dos grandes desafios dos produtores, que precisam observar o comportamento das aves e manter o equilíbrio da temperatura e umidade do ar.
O Brasil é um país de grande variedade climática em razão do seu extenso território. A influência de massas de ar quentes, tropicais e equatoriais, interferem no clima praticamente o ano todo, com maior intensidade no período de dezembro a março. Estes fenômenos de altas temperaturas e umidade relativa do ar variável interferem negativamente sobre a saúde das aves, colocando-as fora de sua zona de conforto térmico. É neste período que a avicultura passa por grandes desafios nos planteis.
Para os frangos de corte atingirem o máximo de seu desempenho, precisam de um ambiente no qual as aves se mantenham na zona de conforto térmico ou que sofram as menores alterações de temperatura e umidade possíveis.
Os produtores têm investido constantemente em inovações tecnológicas e conceitos novos de manejo, visando a maior eficiência produtiva e o bem-estar das aves. Os projetos de aviários atuais junto com manejo adequado, tem como principais objetivos a prevenção de incômodos físicos e térmicos onde a temperatura no ambiente externo não interfira no interno e o calor gerado no interior do galpão não fique armazenado.
Ajuste da temperatura do aviário para o equilíbrio da saúde das aves
Nos primeiros dias de vida, os pintainhos são poiquilotérmicos ou seja, animais de sangue frio. A temperatura do corpo está condicionada a do ambiente. A partir do 10° ao 15° dia estas aves conseguem manter constante a temperatura dos órgãos internos dentro de uma faixa estreita de variação (homeotermia), também conhecida como zona de conforto térmico.
Imagem: Adaptada de Curtis (1983)
Legenda: Relação entre temperatura ambiente e conforto térmico das aves, indicando uma pequena faixa ideal à produção dentro da zona de sobrevivência do animal.
Referência: CURTIS, S.E.;Environmental management in animal agriculture, 2ed.
A zona de conforto térmico das aves é a faixa de temperatura ambiente onde a energia metabólica é mínima. Como consequência, há um menor gasto energético e aumento das energias destinadas à formação do organismo. A zona de conforto pode variar de acordo com o sexo, umidade relativa, idade, atividade física, tipo de ração e consumo de alimentos.
Temperatura ambiente e de umidade do ar ideais em relação a idade das aves
Imagem: Adaptada de ABREU (2005)
ABREU, P. G; ABREU, V.M.N. Diagnóstico bioclimático para produção de aves no centronorte da Bahia. XXXIV Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola. Canoas - RS.2005
O aumento ou a diminuição na temperatura dos aviários pode gerar problemas de imunidade nas aves relacionados ao conforto térmico. O sistema nervoso é o primeiro a ser atingido, o que pode ocasionar um estresse de curta duração, gerado por um aumento repentino da temperatura, ou de longa duração e levar as aves a uma adaptação desse calor ou frio intenso. Isso pode ter consequências no sistema imune e deixar as aves mais suscetíveis a doenças.
Esta alteração na temperatura dos aviários pode influenciar também na diminuição do consumo de ração. Essa redução ocorre pelo ajuste do organismo em diminuir a produção do calor interno ou oriundo do processo de digestão, o incremento calórico (↓ Consumo = ↓ Energia Produzida) levando a perda de peso das aves.
Outro impacto que a temperatura inadequada por ocasionar é na respiração. Em busca de ar, as aves podem aumentar muitas vezes a velocidade de respiração, gerando uma perda maior de CO² e H²O levando a um desequilíbrio ácido-básico, também conhecido como alcalose respiratória, com queda do desempenho e até a morte.
Por outro lado, se o aviário estiver muito frio as aves ficam deitadas e amontoadas em grupos, na tentativa de uma troca de calor por contato, conhecido como condução. Desse modo, elas não saem deste conforto para beber água e consumir ração, levando a queda do desempenho e podem morrer.
Com a queda da temperatura as aves podem reduzir a perda de calor, encolhendo-se para diminuição da sua área em contato com o frio, colocando a cabeça debaixo das asas ou eriçando as penas, com o objetivo de conservar o calor.
Controlando o estresse térmico
Ao sofrerem estresse térmico, as aves podem apresentar alguns comportamentos visíveis. Em outros casos as consequências podem ser sentidas somente ao final, nos dados de produção, conforme tabela abaixo:
* Índice de Eficiência Produtiva
Para diminuir os efeitos do estresse térmico nas aves é preciso controlar alguns parâmetros relacionados a temperatura dos aviários como umidade, velocidade do ar e densidade de aves armazenadas. A ventilação é o meio mais eficiente para o controle de temperatura em aviários convencionais. Através dela é possível controlar a entrada e saída de calor, a umidade do ar e da cama, além de realizar a limpeza do ar, eliminando CO² e amônia.
Para os aviários convencionais a ventilação positiva é dividida em duas: longitudinal e transversal. A ventilação longitudinal acontece com as cortinas fechadas, formando um túnel, onde o ar entra no início do aviário e sai ao final dele. Para isso acontecer devem ser instalados ventiladores em todo o comprimento do aviário a uma distância de 10 metros um do outro e regulados por um sistema de temperatura. É preciso manter uma ventilação mínima e, por isso, a quantidade de ventiladores ligados e a renovação do ar dependerá da temperatura.
Na ventilação transversal as cortinas ficam abertas de acordo com a temperatura ambiente. Os ventiladores ficam em uma das laterais do aviário fazendo com que o ar entre de um lado e saia do outro. A desvantagem deste método é que em dias de muito calor o ar que entra nos aviários é extremamente quente.
Ambos os métodos são maximizados com a utilização de um sistema de nebulização para auxiliar no resfriamento do ambiente. É necessário regular a umidade relativa entre 65% e 75%. É importante também observar sempre se os bicos do nebulizador não estão entupidos para evitar que se molhe a cama.
Imagem: Aviagen - ambiência e manejo de verão
Os aviários de pressão negativa são aqueles que, quando bem isolados e vedados ficam climatizados automaticamente. Neste caso, o frio ou calor do ambiente externo não interfere no ambiente interno. Para uma melhor vedação das estruturas estão sendo construídos aviários com paredes isotérmicas em substituição às cortinas laterais, para evitar aparecimento de frestas.
A ventilação mínima nos aviários de pressão negativa deve ser feita, quando possível, pelas entradas de ar laterais (INLETS) que, por estarem localizadas em quase toda a extensão do aviário, fazem com que o ar entre renovado e de forma homogênea para todas as aves.
Foto: Gustavo Fregadolli
Lateral de aviários com paredes isotérmicas e Inlets
As entradas de ar dos aviários climatizados são feitas por placas evaporativas que vão fazer o resfriamento interno dos galpões, diminuindo até 5 graus a temperatura interna, evitando efeitos indesejáveis do estresse calórico. A velocidade do ar na entrada vai depender do número de exautores e sua capacidade.
Foto: Rafael Soares
Pintinhos bem espalhados, demostrando ambiente ideal
As construções mais novas de aviários tem como características o alojamento de um número maior de aves por área, o que ocasiona uma restrição maior de locomoção das mesmas. Por esse motivo, o risco de contaminação por patógenos é maior. O aumento da densidade de alojamento, visando maior rendimento por metro quadrado, exige o maior controle da ambiência juntamente com a qualidade do ar no interior dos aviários.
Qualidade da água contribui com o bem-estar e sanidade das aves
A temperatura ideal para a água de bebida das aves é de 24° C. Temperaturas muito abaixo ou acima vão levar a diminuição do consumo de água e também de ração. Isso ocorre porque a ave bebe aproximadamente duas vezes o que ingere de ração. Com isso observa-se que a qualidade e a quantidade de água disponível para frangos de corte são de extrema importância e sua falta ou má qualidade leva a perda de peso, diarreias, desuniformidade e mortalidade.
Para evitar a diminuição do consumo de água é preciso fazer o ‘flushing’, que é uma abertura ao final dos bebedouros para que haja uma troca de água constante, mantendo a água fresca no bebedouro nos dias mais quentes. Além disso, atitudes como colocar gelo nas caixas de água ou colocar os canos vindos da caixa enterrados para evitar que o sol aqueça as tubulações, deixar os reservatórios de água na sombra e limpar o encanamento para evitar biofilmes também são medidas preventivas indicadas.
O fornecimento de água de boa qualidade é imprescindível para o sucesso zootécnico do lote. Desta forma, a utilização de produtos contendo cloro e acidificantes na água de bebida atuam na diminuição da carga microbiológica, sendo que o segundo tem ainda a vantagem de reduzir a formação de biofilme no sistema de armazenamento e distribuição de água e, ainda, na melhoria da digestibilidade da ração. Esta ajuda na digestão de ração é ainda mais importante nos momentos de estresse térmico dos animais, que diminui o consumo e piora o aproveitamento da dieta.
Após verificar todos os fatores que levam a uma climatização favorável das aves, é muito importante a utilização dos sentidos do granjeiro para acompanhar o plantel. Observar os sinais comportamentais característicos das aves, em relação as condições ambientais, é fundamental para alcançar os resultados e garantir uma produção mais efetiva e de qualidade.
Para garantir um equilíbrio da microbiota do trato gastrointestinal das aves é indicada a combinação sinérgica de ácidos orgânicos e óleos essenciais que estão associados à melhoria da saúde do plantel. A utilização do acidificante H2ACID Oil é uma ótima ferramenta no controle microbiológico das estruturas de fornecimento de água, através da prevenção da formação de biofilmes. Com ação complementar, os ácidos orgânicos têm maior atividade antimicrobiana sobre bactérias gram-negativas, como Escherichia coli, Salmonella e Campylobacter enquanto os óleos essenciais são particularmente ativos sobre bactérias gram-positivas. Assim, o acidificante possui um espectro mais amplo e eficaz de atividade antimicrobiana.
Assim como um controle térmico adequado às aves é importante, ter um bom programa de biosseguridade, aliado aos procedimentos e produtos adequados para a higienização das instalações, pode garantir melhores resultados na produção de aves. Descubra neste artigo os procedimentos essenciais para combate patógenos nas instalações de produção de aves.
Esta matéria foi publicada na edição 1303, da Revista Avicultura Industrial
Compartilhe:
Ítalo Ferreira - Zootecnista, mestre em Nutrição e Produção Animal.
Veja mais posts do autorRafael Soares - Médico Veterinário, mestrando em Produção Animal.
Veja mais posts do autor