Importância do controle de microrganismos na água de bebida de aves e suínos
Entenda a importância da água para a criação dos animais e a necessidade de prover este recurso com qualidade e segurança para a granja.
Uma das substâncias mais abundantes no planeta, a água também é um dos mais importantes nutrientes para a manutenção da produção animal, visto que ela está presente em praticamente todos os processos metabólicos. Entre outras funções, a água participa na:
- Manutenção da pressão intracelular
- Eficiência dos processos digestivos
- Transporte dos nutrientes
- Apresenta papel importante na termorregulação
- Elimina toxinas através da urina
A água destinada ao consumo dos animais de produção deve atender a requisitos mínimos de qualidade, de forma a garantir o consumo ideal, sem prejuízos à sanidade do plantel. Uma má qualidade da água pode interferir negativamente no sistema produtivo por estar carreando microrganismos patogênicos e substâncias químicas indesejáveis.
Como a água é um elemento imprescindível à vida animal, é necessário que sejam adotadas medidas para garantir as suas melhores características, tanto microbiológicas como físico-químicas, levando em conta diversos fatores. Cada espécie possui peculiaridades quanto à criação como fisiologia. A seguir confira as medidas práticas para o controle da presença de microrganismos na água de bebida de aves e suínos.
Medidas de controle de microrganismos na água de bebida das aves
Sabe-se que o consumo de água é expressivo na avicultura. É estimado que para cada quilo de carne de frango de corte produzida, sejam necessários aproximadamente 8,5 litros de água, isso sem contar com a etapa de industrialização da carne e limpeza de estruturas. Em poedeiras comerciais pode-se considerar que para 10 mil animais utiliza-se cerca de 5 mil litros de água por dia considerando a água de bebida, limpeza e higienização das instalações e dos ovos. Já em matrizes pesadas, o consumo é de aproximadamente 1,6 a 2 vezes o volume de ração que ingerem diariamente, à temperatura de 21°C. Em incubatórios a água é amplamente utilizada no funcionamento dos equipamentos, limpeza e desinfecção de toda a estrutura e materiais.
Tendo em vista a grande importância desse nutriente para o processo produtivo avícola, é de suma importância atentar-se à qualidade microbiológica. Dentre as principais consequências de uma má qualidade de água pode-se citar a diminuição do consumo de ração, contaminação por bactérias patogênicas e problemas sanitários que afetam diretamente os resultados zootécnicos do plantel.
O tratamento correto da água é complexo e exige um monitoramento constante. Deve-se primeiramente escolher um local adequado para a perfuração do poço artesiano, evitar água de minas e rio e utilizar somente água proveniente de sistema fechado e protegido. O armazenamento da água e sua distribuição também não podem ser negligenciados. Na prática, indica-se a limpeza das caixas d’água centrais no mínimo uma vez ao ano, e as caixas de armazenamento dos aviários uma vez ao mês, e sempre mantê-las tampadas. Outro ponto a ser observado é a limpeza dos bebedouros e taças de nipple, garantindo assim o consumo da água sem contaminantes pelos animais, sendo que a frequência da limpeza varia conforme altura do bebedouro/nipple e qualidade da cama.
Deve-se realizar no mínimo uma vez ao ano a análise físico-química da água, atentando-se principalmente para resultados de nitrato, que podem indicar contaminações químicas, e de dureza que propicia a formação de biofilme e prejuízos para as tubulações, podendo diminuir a vazão de água nos bebedouros.
Periodicamente indica-se a avaliação microbiológica da água, com pesquisa de coliformes totais, coliformes fecais, E. coli e Salmonella. Macari (1996) indicou que os valores máximos de coliformes totais e fecais para aves seria de 10.000 UFC/100. Para E. coli e Salmonella espera-se ausência desses microrganismos na água.
As duas principais ferramentas utilizadas para o controle microbiológico na água de bebida são a cloração e a acidificação. A cloração é um método de desinfecção muito utilizado na avicultura, para o combate do crescimento de microrganismos. O cloro oxida as membranas celulares dos agentes patogênicos, resultando em morte celular. Indica-se níveis de 3 a 5 ppm para a ação de desinfecção, e para atingir essas concentrações deve-se clorar todos os reservatórios (centrais e distribuição).
De acordo com estudos, o pH da água de bebida para as aves pode ser de 6,0 a 9,0, porém preferencialmente, busca-se um pH neutro para não afetar a ação do cloro. Para aumentar a acidificação da água e trazer benefícios entéricos para os animais, os aditivos acidificantes na água de bebida vêm sendo amplamente utilizados. Esses produtos são compostos por ácidos orgânicos e óleos essenciais.
Os ácidos orgânicos, ao serem adicionados à água, favorecem a redução do pH do papo da ave, diminuindo a colonização bacteriana no trato digestivo, transformando o papo na primeira barreira bacteriana. Ao acidificar o trato digestivo, ocorre uma diminuição da capacidade de aderência da fímbria da bactéria na parede intestinal, tendo uma forte capacidade de desnaturação sobre as proteínas. Além disso, ocorre a acidificação do ventrículo e pró ventrículo, aumentando a secreção do suco pancreático, equilibrando, desta forma, a flora bacteriana no intestino e diminuindo as chances de crescimento de patógenos indesejáveis. Os acidificantes também tendem a estimular o consumo de água e consequentemente, o da ração.
Os ácidos orgânicos têm maior atividade antimicrobiana sobre as bactérias gram-negativas, como Salmonella e E.coli, enquanto os óleos essenciais agem particularmente sobre as bactérias gram-positivas (Zhou et al, 2007). Sendo assim, os ácidos orgânicos associados à óleos essenciais possuem um espectro mais amplo e eficaz de atividade antimicrobiana.
Nesse contexto, a BTA aditivos possui em seu portifólio duas linhas de acidificantes. O H2ACID 70, composto por um blend de ácidos, e o H2ACID Oil, que possui em sua composição ácidos orgânicos e óleos essenciais. As dosagens podem variar conforme o pH inicial da água da granja e do desafio do cliente, sendo ideal uma visita técnica de um consultor especialista da BTA para indicar as melhores dosagens de acordo com a realidade de cada situação.
Medidas práticas para controle de microrganismos na água de bebida dos suínos
Na fase de maternidade, a ingestão de água pelas fêmeas em lactação é extremamente importante, pois tem relação direta com a produção de leite, e consequentemente, no desempenho zootécnico da leitegada. Os leitões com mais de uma semana necessitam ingerir água para que ocorra o estímulo do consumo de ração, sendo que nessa fase o consumo médio diário de água é de 45mL/leitão.
Na creche, a fase de desmame é o período mais desafiador e crítico. Dessa forma, o incentivo ao animal e a água de qualidade se tornam imprescindíveis. Uma alternativa é a utilização de bebedouros suplementares, reabastecidos várias vezes ao dia. O consumo médio diário de água pelos leitões de creche aumenta de acordo com a taxa de crescimento. Sendo assim, o consumo em litros/dia/animal nessa fase varia de 1 a 5 litros. Já, os suínos nas fases de crescimento, terminação e reprodução têm um consumo médio diário de água de 5,0, 8,0 e 20 L/suíno, respectivamente.
A respeito de armazenamento e procedência da água, a suinocultura deve seguir os preceitos citados no tópico acima, com caixas d’água protegidas e limpas, bem como garantir a limpeza e altura das linhas de bebedouros.
Anualmente, deve-se realizar análises laboratoriais físico-químicas e microbiológicas da água da granja. Porém, dependendo da sanidade, hábito alimentar e desempenho zootécnico do plantel indica-se fazer essas análises em um espaço menor de tempo. A análise deverá observar se as seguintes propriedades da água estão de acordo:
- pH
- Sólidos dissolvidos
- Dureza
- Coliformes
- Indicadores de contaminação biológica
A análise da água deve também verificar a alteração de cor, cheiro e gosto. Toda água servida aos suínos deve ser clorada, sem a presença de matéria orgânica, bactérias ou substâncias tóxicas. A desinfecção com cloro não eliminará o biofilme. Para ocorrer essa remoção indica-se uma lavagem regular das tubulações por sistema de flushing com uma pressão de 1,5 a 3,0 bars. Antes do flushing pode ser utilizado o desinfetante Dynamic Acid, a base de ácido peracético, que auxilia no processo de desincrustação.
O ideal é que a água não contenha nenhuma quantidade de coliformes, E.coli e Salmonella. A presença de itens físico-químicos, água muito dura ou com excesso de ferro ou cálcio podem ocasionar:
- Impedimento de uma boa digestão
- Inibição da absorção de vitaminas e medicamentos
- Provocar o entupimento das válvulas e tubulações do sistema de bebedouro.
Os níveis de nitrato devem ser monitorados, pois quando elevados podem causar dores abdominais, diarreia, tremor muscular e baixa coordenação nos animais. Para auxiliar na modulação da flora intestinal dos suínos, assim como na avicultura, os ácidos orgânicos vêm sendo amplamente utilizados. A utilização desses produtos via água proporciona uma redução no pH intestinal, auxiliando na produção de peptidades e melhorando a digestão das proteínas.
É crucial a utilização na fase de desmame dos leitões, onde a produção de ácido clorídrico ainda é ineficiente. Portanto, os ácidos orgânicos administrados nessa fase diminuem a incidência de diarreia pós-desmame. No gráfico abaixo, é possível perceber uma diminuição significativa da conversão alimentar em leitões suplementados com ácido orgânico e óleo essencial dos 21 aos 42 dias de idade, demonstrando a eficiência do produto na fase inicial de criação dos suínos.
Tendo em vista todas as funções essenciais que a água exerce no organismo dos animais, pode-se afirmar que ela é um nutriente essencial para o desenvolvimento e manutenção da vida. Portanto, é primordial que o produtor conheça e controle a água que está fornecendo aos animais durante o período de produção, para que possa alcançar os índices zootécnicos desejados. Além disso, é importante que o produtor conheça as ferramentas disponíveis no mercado para ajudar no controle microbiológico e no tratamento da água.
Estar atento a quantidade e qualidade da água fornecida às aves é fundamental para garantir uma hidratação adequada do lote, principalmente nos dias quentes. Saiba como garantir a melhor qualidade deste recurso
Compartilhe:
Georgia Almeida - Médica Veterinária, especialista em Gestão do Agronegócio, Mestranda em Tecnologia de Produtos de Origem Animal.
Veja mais posts do autor